Categoria: Crônica Aluna: Lorenza Taglian Chaves ? 9º ano ? EMEF Felipe dos Santos Glacê ou Recheio? Numa gélida manhã de quinta-feira, em meio a minha rotina, decido que quero acordar junto da cidade pacata que é Veranópolis, e não há nada melhor que o amargo de um expresso para me ajudar nisso. Meus lábios imploravam se deliciar com algum alimento que contivesse um alto teor de açúcar, então optei por ir a uma confeitaria, mais especificamente a Confeitaria Veranense, onde posso me sentir aconchegada o suficiente para mergulhar em meio as minhas reflexões. Diante a sua grande diversidade de guloseimas, flagrei-me pensando em quantas variedades de bolos existem. Há os com glacê, cheesecake, com cobertura, sem lactose, salgado, doce e até mesmo vegano! A partir disso pensei: nós, seres humanos, também somos diferentes uns dos outros. Somos como bolos, mas nem todos os recheios são de boa qualidade. Por fora exibimos uma camada que "diz": "Ame-me do jeito que eu sou, eu valho a pena!". O merengue nos protege da revelação real, servindo como máscara, que encobre as nossas possíveis falhas. O coração não decide a quem amar, mas quando temos a oportunidade, escolhemos a dedo. Os padrões predominam afinal. Ser bissexual, pansexual, virou moda. Ter depressão, bipolaridade, ansiedade, síndromes psicológicas, viraram motivo de popularidade, roubando a ajuda de quem realmente necessita de auxílio, amor e compreensão. Gritamos "NÃO" aos canudos, quando sequer recolhemos o papel de bala que deixamos cair sem querer. Ocultamos nosso preconceito no discurso: "Na minha época, não era assim.", ou então "Deus não aprovaria isso.". Arranjamos desculpas para o nosso comodismo, nossa falta de atitude. A ganância impera. Trocamos dinheiro por vida. Cobramos para doar. Somos exibicionistas como a cereja do bolo, quando o "recomendado" é agir sem expor. Somos uma torta: bonita por fora, intragável por dentro. Nossa massa está crua, embatumada. Apesar de dotados de sabedoria e liberdade, tudo o que fazemos é evidenciar o descontentamento. Não nos aproveitamos de uma dádiva gigantesca: o raciocínio. Passamos uma eternidade sendo levianos, ingratos, incompreensíveis e desajustados. Tomara que, num futuro próximo, sejamos mais "saborosos" que visivelmente atraentes. Que sejamos uma sobremesa aprazível, nutritiva e saborosa. Escolhidos por nosso recheio e não, simplesmente, por uma fina camada de glacê colorido, que um vento mais forte ameaça toda a sua beleza e a põe em xeque.